A SPP, em seu nascimento, elegeu como símbolo, cunhado em alto-relevo, a efígie que captura o instante em que Édipo, após matar seu pai biológico – Laio, rei de Tebas – está diante da Esfinge monstruosa que assolava aquela cidade, devorando os passantes que não decifravam o enigma: “Qual animal que, possuindo voz, anda, pela manhã, em quatro pés, ao meio-dia, com dois e, à tarde, com três?”.
“Respondendo corretamente que era o homem, Édipo está muito sutilmente fornecendo não o seu nome individual, mas o de sua espécie“, lembra Junito de Souza Brandão, no volume III de sua “Mitologia Grega” (Petrópolis, RJ: Vozes, 1987, p.261).
É o percurso compreendido entre o engatinhar, no início da vida, e o apoiar-se em bengala, na velhice (sem esquecer a marcha sobre dois pés entre esses dois períodos) que Freud entende, até o fim de sua obra, contar essa tragédia grega uma história própria à constituição da condição psíquica humana, vislumbrando, nas relações amorosas e identificatórias entre adultos e crianças – prefiguradas e sintetizadas na a história que a peça de Sófocles consagrou – um Complexo que o criador da psicanálise vai entender como “fenômeno central do período sexual da primeira infância” (em “A dissolução do Complexo de Édipo”, de 1924).
Como categoria metapsicológica, o complexo de Édipo foi sucessivamente revisitado por diversos psicanalistas, que o adaptaram a seus modelos de análise. Por exemplo: Melanie Klein o situa já nas primeiras experiências do bebê; Lacan o explica a partir da posição que a criança ocupa no desejo parental; Laplanche enxerga nesse complexo não o centro do inconsciente, mas um esquema tradutivo para as mensagens sexuais produzidas na situação antropológica fundamental (estabelecida no encontro entre adultos e crianças).
Para a SPP, o Édipo é uma referência que remete tanto ao humano, em geral, quanto ao psicanalítico, em particular: a Psicanálise, em sua clínica, às voltas com o inconsciente, depara-se com o que, simultânea e paradoxalmente, tornando-nos semelhantes, nos configura como sujeitos absolutamente únicos e, portanto, diversos.
Retratado por vários artistas, para o cabeçalho de nosso site, escolhemos um detalhe da pintura de Gustave Moreau, de 1864, porque nessa tela, como talvez em nenhuma outra obra com essa temática, o pintor, ao mostrar a esfinge sobre o corpo de Édipo, sugere a intimidade e a força que os enigmas do desejo podem ter para cada um(a).
A tela pode ser melhor apreciada clicando-se na miniatura ao lado.